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Disco: “Sheezus”, Lily Allen

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Lily Allen
Pop/British/Female Vocalists
http://www.lilyallenmusic.com/

Por: Cleber Facchi

Lily Allen

Em 2006, quando Lily Allen debutou com Alright, Still, o Orkut ainda era uma rede social de forte relevância em todo o país. É bem provável que você tenha ouvido o primeiro single da cantora, Smile, por lá mesmo, ou se deliciado com o download gratuito da estreia da artista em alguma comunidade hoje extinta. No mesmo Orkut que apresentou Allen para boa parte dos brasileiros, duas comunidades mantinham firme a seguinte linha de pensamento: 1) O problema em ser irônico é que, quando as pessoas não entendem, quem fica parecendo um idiota é você; 2) O 2º problema em ser irônico é que quando você fala sério, as pessoas pensam que você está sendo irônico.

É justamente essa mesma ironia – inteligente, real ou duvidosa – que toma conta de Sheezus (2014, Reghal/Parlophone), o esperado terceiro disco da cantora. Estaria Allen (mais uma vez) brincando com os clichês da música pop para promover a própria obra? Levando em conta o tratamento dado ao single Hard Out Here, primeira composição inédita do trabalho, a estética assumida pela cantora britânica parecia ser a mesma do registro de estreia – um pouco menos jovial em alguns aspectos. Entretanto, ao observar o novo disco em essência, é evidente o quanto Allen ecoa desnorteada, independente da ironia e muito mais pelos conceitos – líricos e instrumentais – que alimentam o trabalho.

Apresentado meia década depois que It’s Not Me, It’s You (2009), até então o último disco da cantora foi entregue ao público, Sheezus – o nome é uma brincadeira confessa com Yeezus (2013), de Kanye West – até tenta resgatar o espírito brincalhão de Allen, mas peca pelo excesso e a redundância dos temas. Da ácida faixa que apresentou o disco, ao manuseio pop que ocupa músicas como L8 CMMR e Air Balloon, todos os elementos do álbum são apenas reciclados dos dois primeiros discos – principalmente o último. Mais uma tentativa de Allen em alcançar o grande público lidando de forma “sarcástica” com os elementos que sustentam o gênero, além dela própria, claro.

Como se estivesse correndo atrás do prejuízo, Allen segue a mesma fórmula pronta do disco de 2009, adaptando vez ou outra velhos conceitos aos temas presentes. Não por acaso grande parte das faixas flertam abertamente com o R&B/Hip-Hop da década de 1990, tratamento típico em toda uma nova frente de cantoras e estratégia explorada da abertura ao fechamento do disco pelo time de produtores – DJ Dahi, Greg Kurstin e Shellback. Entretanto, enquanto o álbum passado e, principalmente, Alright, Still pareciam lidar com um cenário musical bem definido, Sheezus atira abertamente para todas as direções, errando em grande parte delas.

Enquanto a faixa de abertura atenta para a relação com o Rap, a seleção de composições vindas logo em sequência abraçam os mais variados (e estranhos) gêneros. Há espaço para o R&B (Insincerely Yours), dramalhões “coldplayinianos” (Take My Place) e até um uma estranha adaptação do Blues/Country (!) no quase repente As Long as I Got You. Nada que Allen já não tenha “experimentado” nos discos passados ou mesmo outros artistas em seus próprios projetos – obviamente, de forma muito mais satisfatória. Talvez apenas Life for Me, faixa que mais se aproxima do disco de 2006 e que parece produzida por Rostam Batmanglij, seja o único acerto dentro desse cardápio de opções tortas.Dessa forma, quando observado como um disco de música pop, Sheezus é um tropeço. Falta exatidão ou um mínimo senso de equilíbrio ao álbum, que tenta ser todos e ao mesmo tempo nenhum.

Em um cenário de Katy B, Chlöe Howl, Charli XCX e tantas novas artistas britânicas que cresceram durante o recesso da cantora, Lily Allen está apenas tentando disputar o terreno que viu perder há cinco anos. Ironia em excesso ou seriedade contestada, não importa, ao tentar se reerguer com uma obra marcada pelo desequilíbrio e a redundância pop, Allen apenas mergulha nos mesmos desajustes que sustentam grande parte das cantoras que ela mesma tanto critica.

 

Sheezus

Sheezus (2014, Regal/Parlophone)

Nota: 5.5
Para quem gosta de: Katty Perry, Iggy Azalea e Lady Gaga
Ouça: Life for Me e Hard Our Here

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